Muitos são os medos que perpassam a vida de um portador de Lúpus, podemos citar, o medo das crises, da morte, da pulsoterapia e vários outros. Mas hoje quero falar um pouco de um vilão na vida das mulheres lúpicas, os corticóides.
A prednisona é o corticóide mais utilizado, na verdade ele é um glicocorticóide sintético, similar ao hormônio cortisol produzido em nossas glândulas supra-renais. Os glicocorticóides (glicose + cortex + esteróides) são hormônios esteróides (não-anabolizantes e não-sexuais) produzidos pelo córtex da glândula supra-renal.
O hormônio produzido naturalmente pelo nosso organismo é o cortisol. Níveis normais são essenciais para a saúde. O cortisol tem ação no metabolismo da glicose, nas funções metabólicas do organismo, na cicatrização, no sistema imune, na função cardíaca, no controle do crescimento e em muitas outras ações básicas do nosso corpo.
Existem várias formulações sintéticas de corticóides, as mais usadas na prática médica são a prednisona, prednisolona, hidrocortisona, dexametasona, metilprednisolona e beclometasona (via inalatória).
Os corticóides sintéticos são mais potentes que o cortisol natural, exceto pela hidrocortisona que apresenta potência semelhante.
Indicações da prednisona e corticóides
A prednisona e os corticóides em geral são drogas que conseguem modular processos inflamatórios e imunes do nosso organismo, tornando-se extremamente úteis em uma infinidade de doenças.
Qualquer doença de origem alérgica, inflamatória ou auto-imune, pode ser tratada com algum desses corticóides.
Efeitos colaterais da prednisona e dos corticóides em geral
Ao mesmo tempo que são drogas extremamente úteis em uma variedade de doenças graves, os corticóides apresentam, principalmente se usados a longo prazo, uma lista imensa de efeitos colaterais indesejáveis, que variam desde problemas estéticos até infecções graves por imunossupressão.
Os efeitos colaterais estão intimamente relacionados a dose e ao tempo de uso. Em muitos casos os efeitos adversos são menos graves do que as doenças que se pretende tratar. O uso esporádico e por pouco tempo não é capaz de levar ao efeitos descritos a seguir.
a) Efeitos colaterais dos corticóides na pele: Os efeitos estéticos são os que mais incomodam os pacientes, principalmente as mulheres. Entre os mais comuns podemos citar a equimose e a púrpura associadas ao corticóide. Estrias de cor arroxeada e localizadas na região abdominal, calvície, crescimento de pêlos em mulheres e acne também ocorrem com frequências em usuários crônicos de corticóides. Um sinal típico da toxicidade pelos corticóide é o desenvolvimento da aparência cushingóide que se caracteriza por um face arredondada (chamada de fácies em lua), pelo acúmulo de gordura na região posterior do pescoço e das costas (chamado de corcova ou giba de búfalo) e pela distribuição irregular da gordura corporal, com predomínio na região abdominal e tronco.
b) Efeitos colaterais dos corticóides nos olhos: O uso contínuo de corticóides sistêmicos, normalmente por mais de 1 ano com doses maiores que o equivalente a 10mg de prednisona pode levar a alterações oftalmológicas como a catarata e glaucoma. Tanto os corticóides usados por via oral, usados por via nasal (spray nasal para asma ou bronquite) ou como forma de colírios podem causar ambas doenças.
c) Efeitos colaterais metabólicos dos corticóides: Além do ganho de gordura já descrito anteriormente, a corticoterapia crônica também leva a alterações do metabolismo da glicose, podendo inclusive induzir ao Diabetes Mellitus e a elevação dos níveis de colesterol.
d) Efeitos colaterais cardiovasculares dos corticóides: A incidência de várias doenças cardiovasculares costuma aumentar com o uso prolongado de corticóides. Podemos citar o aumento da ocorrência de hipertensão, infartos do miocárdio, insuficiência cardíaca e AVC.
e) Efeitos colaterais músculo-esqueléticos dos corticóides: A corticoterapia prolongada é responsável por aumento da incidência de osteoporose, necrose óssea, lesões musculares (miopatia), fraturas ósseas e distúrbios do crescimento quando usado em crianças.
f) Efeitos colaterais dos corticóides no sistema nervoso central: O uso de corticóides em um primeiro momento pode causar uma sensação de bem-estar e euforia. Porém, a longo prazo está associado a uma maior incidência de quadros psiquiátricos como psicose e depressão, além de insônia e alterações da memória.
g) Efeitos colaterais imunológicos dos corticóides: A imunossupressão causada pela corticoterapia é um efeito desejável nos casos das doenças auto-imunes, mas pode também ser um grande problema por facilitar a ocorrência de infecções. É preciso saber balancear bem os risco com os benefícios. O risco de infecção ocorre naqueles que tomam o equivalente a 10mg/dia ou mais de prednisona por vários dias, sendo muito elevado em doses acima de 40mg por dia. O risco de infecção torna-se significativo a partir de uma dose acumulada de 700mg de prednisona ou equivalente. Além de facilitar infecções, os corticóides também inibem o surgimento da febre, dificultando o reconhecimento de um processo infeccioso em curso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário